sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Uma crónica da minha querida amiga Isabel Teixeira da Mota, publicada no Albergue Espanhol


Num ensaio bastante piadético G. K. Chesterton expôs o absurdo em que caem as teorias que encorajam vícios (como se fossem virtudes muito modernas) ao serem desmascaradas pela prática. Por exemplo, a humanidade descartou em teoria o pecado do orgulho que, entretanto, continua a praticar universalmente, a tal ponto faz parte do seu espírito, da sua moral e do seu instinto. Chesterton via no seu tempo que «já ninguém acredita que todos os males resultem de algum intento de superioridade, como também já ninguém reconhece o pecado do orgulho». E, no entanto, «ai de quem esteja convencido de que a rua é dele ou, às vezes, de que o mundo é dele». A filosofia moderna que encoraja o orgulho, dizia ele, «defendida por centenas de sábios e escribas», fraqueja perante a experiência da humanidade moderna que aceita o preguiçoso ou o descuidado, mas não suporta que eles sejam pedantes. Por isso, no sermão que imaginou pregar-nos, ele começaria por nos dizer que desfrutássemos de bailes e teatros e de ostras com champagne; que desfrutássemos do Jazz e dos cocktails e dos clubes nocturnos, se não encontrassemos nada melhor para fazer; que gozássemos da bigamia e do roubo e de qualquer crime do dicionário. Mas que nunca aprendêssemos a desfrutar de nós mesmos. Seríamos uns infelizes, julgando ser, iludidamente, a medida de todas as coisas. E nós não passamos de seres «muito pequenos e quase acidentais». E eu digo, este sermão não é do nosso tempo.

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