domingo, 28 de fevereiro de 2010

O Exterior das coisas é fácil e vão. Por dentro é que as coisas são.

será de Sophia Mello Breyner?

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Imortais

Nunca um invejoso perdoa ao mérito
Pierre Corveille

A virtude neste mundo é sempre mal tratada
Moliére

Impeachment a Sócrates

Do pouco que ouvi desta crise política que para aí anda, retive:
Que o Primeiro Ministro não pressionava jornais, nem dava ordens para os comprar, limitava-se a seduzir para que a sua vontade fosse seguida. Não censurava os jornais, ligava directamente para os Directores, na esperança de lhes inchar a vaidade. Não pedia para comprar a TVI, ou qualquer órgão de comunicação incómodo. Limitava-se a dizer alto e bom som que era vítima deste ou daquele órgão, ou jornalista, para que as "tropas ocultas" pensassem em soluções, por sua própria iniciativa.
Sócrates quando falou em público, mandou recados, assim como continua a mandar, quando responde a todas as perguntas, nem que sejam sobre o tempo, com um "não me vão vencer pela calúnia,não vão conseguir provar essas injúrias". Como quem diz, desistam, porque o meu nome não aparece em nada... "ninguém me trata por chefe"!

Que o Primeiro Ministro está a pensar resolver o problema das escutas reveladas, reforçando os mecanismos de penalização para quem as divulga. O que eu li disto, foi que Sócrates, tendo falhado a via da diplomacia, avança para a alteração legislativa. Queria aqui dizer também que, nenhum jornalista tem que estar sujeito ao segredo de justiça dos outros. Os jornalistas estão sujeitos ao seu código deontológico, de não divulgar as fontes. Não ao código dos juízes e magistrados.

Uma comissão de inquérito é o mais próximo que temos do impeachment, pelo que, o mínimo que se espera é que Sócrates lá vá responder aos deputados, e que estes se preparem bem, com profundidade, e se deixem de perguntas superficiais. Ou seja que a sua preparação para os inquéritos vá muito para além dos artigos de opiniões dos jornais, procurem assessoria jurídica, judicial, etc.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Don´t you know somebody to love

Um retrato cínico da vida, o novo filme dos irmãos Cohen

Le but des arguments démagogiques contemporaine

O Diabo pode citar as Escrituras quando isso lhe convém

William Shakespeare

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

metáfora da inércia

ESTRAGON:
(giving up again). Nothing to be done.
VLADIMIR:
(advancing with short, stiff strides, legs wide apart). I'm beginning to come round to that opinion. All my life I've tried to put it from me, saying Vladimir, be reasonable, you haven't yet tried everything. And I resumed the struggle. (He broods, musing on the struggle. Turning to Estragon.) So there you are again.
(...)
ESTRAGON:
So you tell me. I don't know. There's an even chance. Or nearly.
VLADIMIR:
Well? What do we do?
ESTRAGON:
Don't let's do anything. It's safer.
VLADIMIR:
Let's wait and see what he says.
ESTRAGON:
Who?
VLADIMIR:
Godot.
ESTRAGON:
Good idea.
VLADIMIR:
Let's wait till we know exactly how we stand.

Samuel Beckett
Waiting for Godot

Belo artigo de Miguel Esteves Cardoso

Elogio ao amor (Miguel Esteves Cardoso - Expresso)"

Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas. Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber. Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo.

O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.

Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios.Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.

Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há,estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje.Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?

O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida,o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar.

O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio,não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende.

O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe.Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado,viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a Vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."

Desmentir provérbios

A última coisa a morrer, não é a esperança, é o humor!

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

É muito difícil entrevistar Sócrates













É difícil entrevistar alguém que rotula as perguntas dos entrevistados de "injustiças", "infâmias", "perseguição", o que retira liberdade ao entrevistador. Alguém que faz julgamentos morais aos entrevistadores, em directo. O uso e abuso das palavras emocionais que confundem o entrevistador e o público. Alguém que foge às respostas intimidando quem o está a entrevistar. Não há qualquer tom de responsabilidade naquele discurso, é um discurso magoado. A forma como pestaneja, a forma ofendida como responde. Sempre agarrado a máximas morais e a verdades formais.
Vamos lá a ver, não há nenhuma infâmia nos artigos que os jornais escrevem. Há transcrições de conversas gravadas que foram separadas porque alguém suspeitou de tráfego de influência. Claro que depois, entre a suspeita e a confirmação vai um mundo, até porque os escutados falavam em "código", usando palavras como "chefe", o que torna difícil de provar. Mas lá porque não se pode provar judicialmente, não quer dizer que se esteja a insultar ao divulgar essas escutas. Absurda a resposta de que nunca ninguém o chama de chefe. Isso não retira que se possam referir a ele como chefe.
O jornalismo em democracia não vive de verdades formais e oficiais. Nem Sócrates pode acusar os jornalistas, ao mesmo tempo que esboça sorrisos técnicos, de estarem a difamá-lo, ou de estarem ao serviço de facções políticas para o derrubar. Por essa ordem de ideias nunca o Washington Post poderia ter revelado as escutas que deram origem ao Watergate e derrubaram Nixon, nos anos 70.

A questão de não apoiar as empresas, para que estas gerassem emprego, e optar antes por fazer investimentos públicos de embarda (auto-estradas aos magotes). Quando é questionado, em vez de explicar pelas suas próprias palavras a sua opção política, quase chama ignorantes aos que não viram logo que era economia, que era Keynes.

Sócrates intimida para Governar.
"O Estado vai reforçar medidas contra a violação do segredo de justiça". Soa a ameaça aos magistrados. Mas que Estado? Os Magistrados não são Estado? Para Sócrates o Estado é ele, os seus ministros e os seus deputados, e a esquerda que o apoia.

A forma como defende o comportamento da economia portuguesa sob o seu mandato, em contra-ciclo com as agências de rating, internacionais. Não há país que não veja Portugal como um pântano. Quem vive fora telefona preocupado com o país, porque o que se houve de Portugal é que está mergulhado numa crise económica, com o maior défice da História Portuguesa, com a maior dívida pública - que ainda por cima não serviu para que os agentes económicos tivessem acesso a crédito mais barato; uma taxa de desemprego galopante. Daqui a dois anos vamos estar na mesma, e teremos o mesmo primeiro ministro, com mais cabelos brancos, a elogiar a economia portuguesa e a citar Keynes como seu guia espiritual. De que serve aquela conversa (importada de especialistas em energia) dos benefícios de investir em energias renováveis para reduzir a dependência do petróleo. São as éolicas que chegam para reduzir a dependência do petróleo? Já no Governo de Santana Lopes, se tinha chegado a essa conclusão. Mas ou se avança para o nuclear, ou as energias alternativas não resolvem só por si a dependência do petróleo. Está o Governo à espera de criar uma verdadeira alternativa ao petróleo para equilibrar a balança de pagamentos, nem lá para as calendas vamos ver esse equilíbrio.
Estamos quase em Março e ainda não há Orçamento de Estado aprovado. A única medida que Sócrates tomou nesta legislatura, mais valia não ter tomado.

Sócrates não responde aos portugueses, responde aos inimigos! Todos os que não votaram nele, todos os que são de direita, todos os que não o defendem, todas as empresas que não o apoiam, todos os magistrados e juízes que suspeitam dele, todos os jornalistas que revelam notícias incómodas, todos os críticos.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Recordar uma crónica do Corta-Fitas

Terça-feira, 24 de Junho de 2008
Dominó
Se há asserção nietzschiana a que não cedo é a de que não há factos, só interpretações. Mas ela já inspirou muita gente e continua a inspirar, em particular a minha amiga Maria Teixeira Alves que lançou ontem no Grémio Literário o livro “Terramoto BCP”, a história interpretada da crise do banco que foi de Jardim Gonçalves. O certo é que, na apresentação da obra, o professor de gestão João Duque fez uma interpretação no mínimo hilariante do que conta a Maria e que nada tem a ver com a escrita folgada e não simbólica que ela utiliza. Mas João Duque, talvez para se divertir com Nietzsche, viu na história contada pela Maria “uma mensagem encriptada de vitória da luz sobre as trevas, dos socialistas maçónicos sobre os prelados do Opus Dei”. Diz ele que “há um reconhecimento de uma vitória de uns sobre outros, mas sem exaltação ou júbilo”. E acrescenta, com as próprias palavras da Maria, “a justiça tomou o lugar do amor; a razão o lugar da fé”. “Quereis mais?”. Mesmo que não quiséssemos tivémos. “Recordo que é nas instalações do Banco de Portugal que, de acordo com o relato da autora se dá corpo à hipótese de Carlos Santos Ferreira vir a ser eleito o presidente do Conselho de Administração do Millenium BCP. Ora o BP é precisamente a instituição que detém a única Igreja da Baixa lisboeta que foi reconstituida pelo Marquês, pelos arquitectos Eugénio dos Santos e Mardel, com a traça que respeitava a rectangular e cripto-maçónica, ao contrário das outras que se construiram segundo o formato clássico da cruz latina. É pois nas instalações do Banco de Portugal que se decide a solução do Carlos Santos Ferreira, e passo a citar, “que é socialista e anti-cristo”. Não sei o que é que a Maria interpretou da interpretação de Duque. Mas ouvi-a, é um facto, dizer logo a seguir o seguinte: “Quando escrevi este livro tinha-lhe dado um título que reflectia melhor o conteúdo – Dominó. Dizia que tinha chamado a esta história dominó porque a convulsão por que passou o banco foi o resultado de pormenores, como quase todas as grandes crises. Pequenos conflitos, pequenos orgulhos que assumiram proporções devastadoras. Na minha opinião não houve uma arquitectada estratégia de conquista de poder. Essa estratégia foi crescendo à medida que os acontecimentos iam tendo maior dimensão, e à medida que havia mais oportunidades. Um conflito levou a outro, uma ambição levou a outra e de repente num efeito dominó incontrolável atacou as estruturas que fundaram o maior banco privado português”. Pois é, Maria, o problema das interpretações é mesmo o efeito dominó que têm. Por isso prefiro ater-me ao facto de que o livro está aí nas bancas para ser comprado e lido. O que já li dele gostei.

Isabel Teixeira da Mota

Louco não é o que perde a razão...

No outro dia ouvi um ideia, com que me identifiquei:
O louco não é aquele que perde a razão. É o que perde tudo, menos a razão!
G. K. Chesterton

Aforismos de Agustina Bessa Luís

As primeiras impressões não são decisivas. Às vezes são fatais mas não decisivas.

Humilde é a pessoa que não afasta de si a crença do Infinito, a realidade das suas pequenas pegadas na vida - e não aquela que se desmerece, que insulta o seu corpo e a sua alma, que se enfurece contra si mesma. Aceitar a sua humilhação é consentir na humilhação do seu próprio Deus.

As guerras não surgem por motivos económicos ou passionais. É uma atitude de indivíduos abandonados à razão, incluindo a razão do seu mundo interior isolada do mundo exterior.

A frivolidade é também uma forma de hipocrisia porque as pessoas não são aquilo. A pessoa, quanto mais frívola nos parece, mais esconde a sua natureza profunda.

A essência das coisas não está na filosofia, nem na política, nem em qualquer função intelectual. Está na reciprocidade do inconsciente que não encadeia só o que é humano, mas até o que é apenas vegetal ou inerte.

Custa tanto escrever um bom livro como um mau livro; mas só merece respeito a Arte que é em nós uma imposição, um destino, um fogo inconsumível de espírito, ainda que a obra, relativa à nossa exigência, nos pareça medíocre.

Mas o que são os vaidosos senão os que temem a sua nudez? Os que evitam o retrato da alma para não lhes descobrir tormento e debilidade?

É extraordinário como nos tornamos violentos quando queremos agradar ao mundo. Agradar ao mundo resume o comportamento da sociedade nos seus aspectos mais retóricos.

A intimidade excessiva desencadeia a hostilidade.

Eu admiro os grandes parados. Em geral são pessoas de grande perspicácia. O movimento produz calor, mas não aguça a inteligência.

Eu acho que não há inteligência sem coração. A inteligência é um dom, é-nos concedida, mas o coração tem que a suportar humildemente, senão é perfeitamente votado às trevas.

Pode-se não recordar os insultos; mas guarda-se deles um amargo de experiência, feia como uma cicatriz. E isso envelhece a alma, torna-a ruinosa e inútil.

A infância vive a realidade da única forma honesta, que é tomando-a como uma fantasia.

Não há exemplo duma ideia que, por excelente que seja, se desenvolva ao nível do quotidiano. Sofre de toda a espécie de mutações antes de entrar na carreira do lugar-comum, que é onde acabam todas as grandes ideias.

O humor ilude-nos como uma faísca num campo escuro. A verve um tanto imoderada, uma corrupção do sentimento que se faz galhofa, um medo de ganhar nome de suspeita virilidade. Quem não troça é beato ou é eunuco.

O humor é, nas pessoas, um elemento terrivelmente desconhecido. Pode unir um povo inteiro como o não fazem os costumes e a própria língua.

Na nossa sociedade, que se entende por permissiva, não há afinal homens exemplares. Há só leis que substituem o exemplo; há só alíneas morais que estão em vez dos actos reais e da sua humanidade.

O importante é não perder o estilo, e, se possível, não perder o dinheiro também. Porque o estilo sem dinheiro é uma infiltração do mau gosto.

Parte da originalidade dum escritor depende das fontes dos seus plágios. É preciso dominá-las bem para poder usá-las da maneira mais convincente.

O homem faz tentativas duma obra, a mulher opera sem necessidade de completar alguma coisa. Ela é um ser completo, princípio e fim, lugar, caso, dispersão do conflito em que a própria morte se descreve, se anuncia.

Os jornais ignoraram, mas ninguém pára a internet