terça-feira, 3 de março de 2009

o livro... Terramoto BCP


capituloI
Sobre a vaidade e outros demónios

É quase impossível na natureza humana erradicar a vaidade. A vaidade é a paixão mais insubmissa, mais determinante, mais irreverente. Alimenta-se de todas as motivações humanas e tem normalmente preferência pelas mais nobres, pela ética, pelo bem, pela justiça, pela moral. É tão arrojada que se serve até do amor e bem assim da amizade. A vaidade é o motor da história, que é uma teoria que faria Marx revolver-se no túmulo.
Quando se pensa em todos os detalhes e se traça um caminho tão bem calculado, acontece o inesperado e Deus parece então rir-se de nós. Como na velha história do homem que decidiu não casar com a namorada que tinha uma família que não preenchia os requisitos da vaidade, em nome dos futuros filhos. Por essa prudência que esconde o orgulho, acabou por escolher
outra com quem gostava de ser fotografado em família e que nunca conseguiu dar lhe filhos. Por aqui se vê que quando falta a fé, o Homem agarra-se à razão e faz do calculismo um instrumento de orientação, o que não é alicerce que se recomende.
A história não é feita de grandes homens. As pessoas que mudam o curso do mundo não são, na maioria das vezes, grandes líderes, com missões históricas. É um desassossego pensar que andam pelo mundo pessoas, às vezes ignoradas, mas que têm um enorme poder sobre as outras e sem o saber conduzem os acontecimentos mais devastadores, com as suas paixões
e convicções. Introduzem-se como um vírus nas relações, algumas já sedimentadas em instituições, e sem prever a avalanche de consequências, jogam a primeira peça de um dominó com alcances imprevisíveis. A história do fim da dinastia Jardim Gonçalves, que se confunde com o BCP, é afinal de contas um dominó a que se foram juntando peças que serviam
apenas a pequenos interesses particulares. Nada de muito nobre e altruísta.
Todos queriam ser o salvador do BCP mas ninguém queria realmente salvar o banco desta guerra que o corroía na sua mais importante virtude, a da confiança.

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