quarta-feira, 4 de março de 2009

Caixa Geral de Depósitos marca o preço da Cimpor


Voltemos ao tema que leva amanhã o Presidente da CGD ao Parlamento, para mais uma comissão parlamentar de inquérito. Desta vez para explicar porque o banco do Estado pagou pela Cimpor mais 25% do que a média da cotação da cimenteira nos seis meses antes (deixemos os detalhes das contas para o Louçã que gosta de impressionar com números aparatosos).

Tal como já tinha escrito numa nota anterior, a CGD anunciou a compra de 9,58% da Cimpor a Manuel Fino para que este pudesse pagar a dívida que tinha contraído em 2007 para comprar acções do BCP, numa altura em que um grupo se movimentava para combater Jardim Gonçalves. Faria de Oliveira é apenas o bode espiatório de uma operação de crédito concedida com poucas garantias, pela anterior administração (que hoje por coincidência está no BCP). Perante o facto consumado de que Manuel Fino tinha mais dívida que património, e perante a situação de tal obrigar o banco a constituir provisões e diminuir o rácio de capital, a CGD não teve alternativa, senão comprar-lhe a Cimpor. Mas pergunta-se porque o fez a 4,75 euros, quando as acções pouco andam acima dos 3 euros? Foi para a que dívida fosse saldada no maior montante possível? Para evitar as tais imparidades de 80 milhões de euros?

Ou terá sido porque assim a CGD também ajuda os bancos privados que tinham descobertos nos créditos concedidos à Teixeira Duarte e a Manuel Fino. De que forma? Ora a partir desta operação todas as acções da Cimpor que a Teixeira Duarte e Manuel Fino deram como garantia de empréstimos que estão com fortes descobertos, serão avaliadas a este preço. Os 22% da Cimpor que a Teixeira Duarte deu como garantia à CGD, BCP e BES, valem assim muito mais do que valeriam se o preço tivesse por base a cotação em Bolsa. Com 22% da Cimpor Pedro Maria não precisa de hipotecar as jóias da família para se manter como terceiro maior accionista do BCP. Também nos créditos do BCP a Manuel Fino, os 10% da Cimpor como garantia são agora mais valiosos, e pemitem cobrir mais da dívida do que se o referencial fosse a cotação. Todos ganham.

Ora como Fernando Ulrich disse e bem, este prémio de 25% não faz bem nenhum às imparidades da CGD. De facto poupam-se imparidades num lado e abrem-se no outro (e a Cimpor não pára de cair). Isto é, impedem-se perdas no crédito do Manuel Fino, mas criam-se perdas potenciais na participação da Cimpor. A CGD ainda disse que isto era o preço a pagar pelo controlo... mas que controlo é este com menos de 10%? Os administradores da CGD lá responderam que estes 10% juntos com outro accionista dão o controlo. Como quem diz, impede-se a Lafarge de comprar. Afinal o que somos não é um banco à rasca com um crédito de elevado risco, o que somos afinal é cavaleiros da defesa do capital das empresas em mãos nacionais.

Claro que quando é o banco do Estado a falar de concertação accionista, a mesma que leva a CMVM, tutelada pelas Finanças, a aplicar normalmente elevadas multas, torna-se num caso complicado e cada vez mais embrulhado.

Depois, e assim que Fernando Ulrich gozou com os argumentos da Caixa, veio Santos Ferreira, o presidente do BCP, com a indirecta ao presidente do BPI: "também vendemos 10% do BPI aos angolanos da Santoro com um prémio de 33%".
Todos alinhados. Até Fernando Ulrich acabou por se calar.
Amanhã o que é que vamos ver? Meia dúzia de deputados mal preparados técnicamente, a serem ofuscado pelo demagogo Louçã, esse sim, tem a esperteza de estudar dos cadernos, e um Faria de Oliveira muito autêntico e simplório a explicar uma operação para o qual contribuiu pouco. Falará de imparidades, e de como a compra da Cimpor é melhor para a CGD do que um crédito a descoberto. Rir-se-á das perguntas incómodas como quem confirma as críticas, sem o expressar. Tal qual na conferência de imprensa da CGD, quando lhe perguntaram se achava que a administração anterior da CGD tinha feito bem ao emprestar dinheiro à Investifino para comprar acções do BCP e ter aceite as mesmas acções como garantia. Não houve respostas. Um silêncio. Olhares cumplices entre os administradores e risos subtis. Não foi preciso mais nada.

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