domingo, 11 de abril de 2010

Má sorte, desde o berço até à morte


Há um fenómeno estranho no universo: a eterna repetição do azar ou a sorte numa mesma pessoa ou num mesmo povo. Ando a vida toda a não querer acreditar que quem (ou o que) tem azar uma vez, tem azar sempre. Sem qualquer lógica de causalidade, ou explicação científica. Nem aquela teoria das energias, ou dos chakras, muito útil aos fãs da auto-ajuda, me convence.
Pensei isto (não a propósito de mim ...) mas a propósito da morte por desastre de avião do presidente da Polónia, Lech Kaczynski. A Polónia foi sempre invadida. Nos tempos da Monarquia foi o único país em que os Reis eram eleitos pelos nobres. Resultado: muitos Reis polacos eram estrangeiros, que viam na Polónia um reino suplente das suas próprias coroas.
Por volta do século XVIII, a outrora poderosa Comunidade passou por um período de crescente anarquia, terminando por ser partilhada entre os seus vizinhos e apagada do mapa em 1795, através da anexação pelo império austro-húngaro. O país do centro da Europa recuperou a sua independência em 1918, mas a Segunda República foi destruída pela Alemanha e URSS quando as tropas nazis e as do Exército Vermelho invadiram o território. A Polónia foi então vítima de dois totalitarismos. Primeiro país a ser anexado pela Alemanha do Hitler, conseguiu libertar-se dos horrores do nazismo à custa do apoio de outro facínora: Estaline, para quem muitas mortes eram estatística. Saiu da alçada do Hitler para ficar subjugada à Rússia, cujo líder tinha mandado liquidar a elite militar da Polónia num bosque: Katyn. Ironicamente era para lá que pretendia dirigir-se o presidente Lech Kaczynski, resolvendo de vez o contencioso histórico com a Rússia, no seu trágico voo em direcção à morte. Morre com a sua mulher na queda do avião, deixando uma filha.
Falta ainda dizer que o país tinha conseguido libertar-se do comunismo nos anos 80 com Lech Walesa, com um movimento de reforma liderado pelo sindicato anti-comunista, o Solidaridade. A Polónia é um país com uma história trágica, absolutamente católico, profundo marcado por uma fraca auto-estima. Mas com um enorme orgulho nacional. Pátria de Chopin, Copérnico e de João Paulo II, a Polónia é um país assombrado pelo eterno retorno do azar.

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